A montagem de “Um Inimigo do Povo” é a oportunidade de trazer através de um texto realista o questionamento sobre o social, o poder e as possibilidades humanas. Na atualidade as questões individuais estão sobrepostas ao coletivo, o que realmente importa está centrado no “eu”. O texto relata a disposição de um homem em pensar no coletivo colocando-se contra o sistema, levando esta atitude até as ultimas consequências em busca do bem estar de outras pessoas.
Até que ponto estamos dispostos a refletir sobre o que sabemos que existe mas fingimos não ver? Corrupção. Tapação do sol com a peneira. Qual o peso do dinheiro sobre a verdade? Qual a influência do sistema capitalista em nossas vidas? É possivel ao governo conciliar o capitalismo com os interesses sociais? Ibsen tratou em 1882 de algo que hoje é tão forte e arraigado em nossa sociedade.
Os interesses pessoais também são retratados como flutuantes, têm uma mobilidade direcionada de acordo com os beneficios apresentados. A falta de opinião própria aliada à idéia de estar unido ao lado mais forte faz destas pessoas joguetes nas mãos de quem “teoricamente” detém a palavra final. “Teoricamente” porque a palavra final seria mais forte se decidida pela maioria consciente de sua função cidadã e responsabilidade pelos caminhos de sua comunidade, cidade, Estado e Nação. É posição confortável e não exige conhecimento, intelecto ou capacidade de questionamento, tampouco esforço e tempo gasto, já que estamos atarefados demais preocupados com nosso mundinho reduzido ao nosso proprio umbigo.
O espetáculo será realizado com base na interpretação realista, com estudo e aprofundamento em estudiosos seguidores do método de Stanislavski (Stella Adler, Sanford Meisner, Uta Hagen). Porém a concepção guardará seu toque de distanciamento afim de estimular um pensamento crítico do público. Cenario abordará a mobilidade dos interesses com itens que contrastam a época e remetem a atualidade da situação